

Pintar a Luz.
Esse foi o ideal dos Vitralistas da Idade Média e continua a sê-lo hoje. A cor fascina a psique , é indutiva e activante do pensamento e pode até reportarnos ao passado ou mergulhar-nos num futuro incompreensível, mas delicioso.
A Simbólica é como uma metáfora poética, que traduz por imagens/simbolismo, um significante indisível, racionalmente indicionável ( não catalogável no Dicionário ), mas reconhecido pelo inconsciente ( esse algo que verificamos existir, mas que ao qual não temos acesso mental , nem em memória ) .
Se o inconsciente reconhece algo que para mim é totalmente novo e abstrato, é porque há algo de mim que eu não conheço. Se perante uma Cruz num qualquer altar consagrado, sentimos uma Omnipresença, e se, perante um pôr do Sol nos sentímos atraídos e suplantados por uma força maior , é por que há neles tudo o que não há nos acontecimentos turbulentos quotidianos ; a força de Deus. Indescritível !
Assim é a Arte Simbólica.
Procura lançar o ser humano na dimensão do sagrado, directamente , sem adoçantes nem catalizadores. Na época medieval utilizava-se o Vitral para instruir a plebe analfabeta, sobre os episódios dos Evangelhos e outros ensinamentos que lhes eram acessíveis , por múltiplas razões. Actualmente, a arte simbólica existe por outras mesmas razões.
Continuamos a contar histórias, fazemos a arte de as desenhar de novo. Trata-se de alimento para as Almas 1000 anos mais velhas ( o tempo quando considerado, é sempre relativo ) . O esforço consiste em reapresentar o Eterno de forma que possam entender. Mártires dos Tempos.
Rejeitam o passado, desconhecem o futuro e julgam subjugar o presente que se lhes escapa na alucinação duma vivência submersa em stress, auto-produzido, para substância do ego. O Símbolo é estático. É absoluto. Temporalmente eterno. É universal, sereno, porque intemporal, não pertence a ninguem e dirige-se a todos. Não tem copyright, nem precisa de tradução. Se em qualquer parte do mundo se apresentar uma imagem, a ascenção de uma figura humana ao céu, qualquer pessoa entende do que se trata, embora nunca o tenha realmente visto.
Maravilhoso mistério a Simbólica.
Todos os Vitrais aqui expostos , vivem desta relação indizível mas compreensível, porque não se dirigem ao intelecto , mas ao coração ,tradutor Universal das emoções ; o incorruptível Jardim da Verdade.
A Simbólica tem destinatários, mas não tem detentor.
O maior símbolo Cristão, a Cruz, (outrora o Peixe, da era astrológica então iniciada de Peixes e também conotado com a frase - " farei de vós pescadores de homens " ), ganhou um significado universal e intrínseco profundo. A Cruz tinha anteriormente sido utilizada no Hinduísmo, na religiosidade egípcia e na sua similar celta entre outras.
Isto não diminui a sua intensidade iu identificação cristã, antes projecta a sua universalidade, compreendida e aceite em diversas épocas, latitudes e culturas. Tal como a Cruz, outros símbolos são instrumentos de compreensão, como a Água ; a " água viva " que dessedenta a Samaeitana, a Água Baptismal do Jordão que lava o "homem Velho " e da qual emerge o "Homem novo , ou a Água que é transmutada em vinho nas Bodas de Cannã.
A Santíssima Trindade representada simbólicamente por um Triângulo, figura em vários painéis com sentido de omnipresença. Dos presentes Vitrais , sobressai ainda outro símbolo ; a entidade alada e etérea simbolizante do Espírito Santo , como agente dinâmico da vontade da 1ª Pessoa da Trindade Cristâ, presente e invicto em muitos dos Mistérios.
A sua múltipla representação, absolutamente justificada, surge como forma de Louvor, infindo agradecimento e reverência pelo indizível conforto espiritual que nos providebcia, decorrente da promessa , " eu vos enviarei o Espírito Santo".
Pela simbologia se interioriza o que não é racional, porque " não é deste mundo ", mas que a ele se dirige.
Quanto mais lemos e analisamos a Bíblia, e particularmente os Evangelhos, mais se salientam os profundos e sucessivos níveis de interpretação que contém escrita para registo e estabilização da tradição oral,e ao mesmo tempo para ser entendida pela mentalidade humana do século I e II, permanece no XXI como fonte insuperável de instrução, o que desde logo nos remete a uma "conclusão", estes textos têm o cunho do Espírito Santo, como uma dádiva Divina e com destinatários terrenos.
Ciente destas permissas, entendi como dever, apresentar este conjunto Vitralístico com um carácter simbólico e interpretativo, adequado à mentalidade actual, capacitada de um nível de interpretação mais profunda, insatisfeita com leituras directas, mas antes sedenta de complexidade intelectual.
Todavia, entendo-a com a simplicidade intuitiva que se dirige ao coração e não à mente sofisticada, talvez mesmo ofuscada de narcisismo intelectual.
Trata-se de amor.
Puro amor. A Energia maior do Universo.
Cada painél é um episódio amoroso que se traduz nesta linguagem universal. Neste momento da história precisamos quebrar o narcisísmo , o endeusamento do ego e refluir para Deus, causa única da existência humana desde a queda Adamica, se tivermos finalmente, plena consciência do nosso posicionamento no universo.
Creio ,sermos muitos a pensar assim!
Embuído desta dinâmica, desenhei os painéis, por forma a colocar o Observador como parte ativa da acção. Por exemplo:
Vou longe demais, dirão alguns, talvez, eu sei, mas é premente, e não faz mal tentar, por Amor.
O painel representa simbólicamente a supremacia da Sabedoria Divina sobre o restrito conhecimento humano (daquele tempo e de hoje também).
Assim:
O agente desta confluência surge sobre o Altar : Cristo, o símbolo conducente à perfectabilidade humana, aurada de Aliança de ouro, a Nova Aliança proposta por ele para a salvação da Humanidade.
Continuando a progredir no painél apresento:
Tal pressuposto, produziria a imagem subre posta da intercepção de dois universos : o Material e o Espiritual, o que geraria uma zona de justa posição simbolizada no Vitral pelo " Olho " da consciêncialização superior humana, que na terra podemos materializar na Classe Sacerdotal.
Não estamos perdidos!
O Universo da totalidade ou plenitude ( círculo superior), o universo de Luz, ladeado do Alfa e do Ómega culmina o Vitral. Fechando o Arco, uma figura geométrica devolve-nos à dimensão humana, uma citação de Almada Negreiros ( de origem grega e escrito em latim) : " supérflua exeeore ", segundo o amoroso Padre Geraldes ; o erro supérfluo, porque erramos sabendo que o fazemos?
Esta é uma pergunta que os Anjos nos fazem muitas vezes, porque não o compreendem.
ARTE & VIDRO (A.E.S. Lda.), é fruto dos membros da 2ª e 3ª Geração de uma família dedicada a esta actividade desde 1956, ano em que o Fundador se estabeleceu comercialmente em Cascais.
Actualmente labora em instalações mandadas construir ainda pelo fundador Alfredo Estêvão, abrangendo todas as áreas do vidro artístico:
Para execução dos Vitrais da Igreja Nª Sª Auxiliadora foram entregues:
Além destes, variadíssimos outros materiais e factores de produção foram entregues nesta realização.
Na área de pesquisa e concepção, foram necessários:
Mas a imensa alegria, resultante da certeza de estar a contribuir para a expansão da Fé, para alguns milhares de pessoas, reconforta-me de todas as provações.
Se uma só criança desta Escola se fascinar por estas imagens, ajudando-a a reencontrar o caminho para Deus, terei assim a maior Retribuição.
Este Mistério é muito profundo.
Após angústia no Horto, Guestsamani, e o suplício da Flagelação, a Coroação de espinhos, surge como um clímax, onde Jesus é cada vez menos o humano sofredor e perecível, e mais o Cristo, 2ª Pessoa da Santíssima Trindade.
Sem saber o que representa a sua atitude irónica, o Legionário Romano que o coroa como Rei, está operando o acto simbólico culminante e sublime , em que a Humanidade reconhece em Jesus Cristo todo o poder Real e Sacerdotal ( Temporal e Intemporal ) sobre toda a criação.
Vitralísticamente, Cristo é o motivo central envolvido por um manto púrpura (cor sacerdotal de múltiplos significados) motivo inspirado em retábulo do século XVI de excelente autor anónimo português.
Esta maravilhosa figura está rodeada de víboras (o mal Satânico persuasivo e insinuante que tantas vezes nos alicia imperceptível e enganador) e rodeado de línguas de fogo indominável (que nos fustigam impelindo-nos a fazer o que não queremos e simultâneamente a não fazer o que sabemos dever fazer), culminando por pontas de lança e setas dilacerantes opressoras, desejando submeter-nos à estratégia demoníaca, simbolizada pela cauda do réptil medieval no canto inferior esquerdo do 3º painel imerso em negro obscurantíssimo.
Assistindo a este climax, estão os Convertidos, simbolizados por 2 pares de mãos pedindo intercepção divina pelo padecimento e louvando o altruísmo inatingível, e remissor da Humanidade, inconscientes do acto que testemunhavam.
Todo o Vitral é serpenteado por uma linha simbolizando um percurso da humanidade ou do indivíduo, com um início indefinido (qualquer um) que se dirige inequivocamente para o eterno, com uma atracção indefinível mas inadiável.
Pairando sobre o 3º painel, encontramos a Rosa, esteticamente a osácea, como elemento simbólico do Amor, novamente o Amor, como a força superlativa de toda a acção.